MANUEL JOÃO RAMOS
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A NAQBA DO PORTINHO

10/5/2021

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O mundo lá fora oferece-nos tantos espectáculos contrastantes que temos por vezes dificuldade em perceber as linhas que os ligam. Para lá do Canal da Mancha, um primeiro ministro justifica post est facto a decisão britânica de “libertar” o país da União Europeia com o “inequívoco sucesso” do processo de vacinação nacional contra a Covid19. Mais longe, nas margens orientais do Mediterrâneo, outro primeiro ministro vangloria a “esperteza” do Estado israelita, que garantiu, oferecendo a sua população como cobaia de testagem em larga escala da eficácia das vacinas anti-Covid19, um programa de vacinação rápida e quase universal dos seus cidadãos. Ainda mais longe, no subcontinente banhado pelas águas do Índico, o país que se posicionou como o principal produtor mundial dos componentes primários da polémica vacina da AstraZeneca afunda-se numa tragédia colectiva nutrida pela propagação fulgurante de variantes ultra-contagiosas do Coronavírus, pela imensa fragilidade do seu sistema hospitalar e por uma baixíssima taxa de vacinação da segunda maior população do mundo.
É fascinante verificar o actual grau de imbricamento profundo das cadeias globais de produção de vacinas, a interrelação dos fluxos de circulação internacional de humanos e de vírus, e a sucessão de políticas-barreira tendencialmente isolacionistas adoptadas por uma multitude de estados nacionais para prevenir a expansão da doença e o colapso dos sistemas de saúde. Mas é igualmente fascinante – e deprimente - observar as assimetrias profundas entre países ricos e países pobres, e a concorrente normalização de posturas de egoísmo nacionalista. Israel, o Reino Unido e os Estados Unidos contam-se entre os países onde a vacinação de prevenção da Covid19 se encontra mais avançada. Isto quer dizer, no fundo, que cada vida salva nesses países se faz à custa de vidas perdidas noutros países, devido às desigualdades profundas no sistema de distribuição mundial de vacinas. Suprema ironia deste estado de coisas é que o país que garante o sucesso da vacinação dos países ricos (e também pobres – porque o programa Covax dele depende igualmente) o faz à custa da sua própria população. Histórias tristes que os laços coloniais teceram...
É de egoísmo e ironia que quero falar. Como é sabido, o Estado Israelita nasceu e consolidou-se graças à expulsão de centenas de milhar de palestinianos para os países árabes vizinhos (conhecida como a Naqba) e à concentração em duas faixas territoriais estreitas (Gaza e Cisjordânia) da restante população palestiniana. Actualmente, a população que de acordo com a nova lei da nacionalidade israelita não tem direito de cidadania por não ser “judia” – os palestinianos e os árabes – não beneficiam senão marginalmente, por esmola, do programa de vacinação “universal” israelita.
Este egoísmo nacionalista, na medida que é uma resposta política imediatista e oportunista, contém riscos graves a longo termo porque sedimentam percepções externas que se tornam indeléveis.
Passemos agora do macro para o micro: o desassoreamento da praia do Portinho da Arrábida que levou ao desaparecimento da areia e à dissolução da duna elevada do Creiro. O Portinho ganhou fama de lugar paradisíaco quando alguma burguesia lisboeta o começou a tomar de assalto nos anos 50-60 do século passado. Sucedeu-se a construção de discretas moradias “de arquitecto”, de legalidade mais que duvidosa. É verdade que não havia ali, como na Palestina, uma população autóctone a ser expulsa. Mas o ambiente de ghetto privilegiado era manifesto. Os “palestinianos” vieram depois, nos anos posteriores ao 25 de Abril de 1974. “Palestinianos” era o termo pejorativo que os “asquenazes” lisboetas usavam para se referir à população de veraneantes que construíram as muitas dezenas de casebres clandestinos sobre a praia e no interior da mata do Creiro, e que assim destruíram o ambiente exclusivista do local. A sua reacção enojada perante o cheiro da sardinha assada nos grelhadores e a insalubridade que advinha da ausência de saneamento do casario clandestino, aliada à sua capacidade de influenciar os corredores do poder legislativo e executivo, foi premiada pelo famoso “Engenheiro Pimenta” com a erradicação de todo o casario ilegal na orla da praia. As casas “de arquitecto”, bem disfarçadas no matagal da arriba sobre a (desaparecida) Praia dos Pilotos, ficaram convenientemente excluídas do programa de limpeza das construções ilegais da Praia do Portinho.
Mas a construção da barra da Figueirinha e do molhe do Outão, no início dos anos 70, assim como a multiplicação de barcos de recreio no Portinho (era tão chique, nessa altura, mostrar aos vizinhos o último modelo de fora-de-borda...) que com as suas âncoras destruíram o manto vegetal submerso que retinha as areias, muito contribuíram para o progressivo desassoreamento da praia. É verdade que a subida do nível médio das águas do mar, a redução dos depósitos sedimentares do estuário do Sado e as dragagens constantes para manter aberto o canal para navios de grande porte, tiveram também a sua quota-parte de responsabilidade. Mas tenho para mim que o egoísmo imediatista dos burgueses privilegiados de Lisboa, que os levou a imaginar uma barreira de classe para se distinguir dos “palestinianos” – os clandestinos que reclamavam ineptamente o seu direito ao paraíso de veraneio –, foi compensação de curta duração. Os clandestinos foram-se, as autoridades do Parque continuam a proibir no Verão a circulação automóvel entre a Figueirinha e o Portinho, sempre com o pretexto de uma esperada calamidade de queda de rochas, mas o Portinho deixou de ter areia. Os “asquenazes” estiram agora as suas toalhas sobre calhaus lamacentos.

Jornal de Azeitão, Maio 2021
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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o desastre da desordem

1/3/2021

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Impressionam, as muitas dezenas de fotografias do livro A Rua da Estrada, do geógrafo Álvaro Domingues. Não é que não conheçamos todos a deprimente realidade das bermas das estradas nacionais e municipais transformadas em mostruários de todo o tipo de comércio, como se o país fosse um gigantesco shopping que se visita de carro. Mas a profusão e concentração de imagens absurdas, página após página, torna evidente o carácter caótico do “ordenamento” urbanístico português, e faz certamente desesperar quem alguma vez pense aventurar-se a procurar uma solução para ele. Funerárias, stands automóveis, lojas de cerâmica, exposições de mobiliário, restaurantes, bordéis e sex shops, montras de piscinas... há de tudo um pouco no contínuo festival processional que é a rede viária portuguesa.
O casario comercial dos Brejos, da Quinta do Conde e de Fernão Ferro estão bem representados no livro, embora não cheguem a ser tão exuberantes como certas bordas de estrada minhotas ou durienses.
São conhecidas as razões deste surreal estado de coisas. Após a revolução de 1974, o sistema jurídico e administrativo português alterou-se profundamente, replicando as estruturas do Estado central a nível autárquico e criando um sistema de dois poderes de governação que as mais das vezes competem em vez de cooperar. Um cínico diria que esta bem intencionada duplicação de poderes, além de fornecer instrumentos de representatividade a nível local, ofereceu uma oportunidade dourada para criar uma hidra de clientelismo político-partidário e fortalecer, sobretudo através das derramas, redes de influência entre autarcas e empresários – em particular os da construção civil.
O certo é que o licenciamento imobiliário cedo se tornou a principal fonte de financiamento municipal e uma espiral de construção desenfreada se verteu sobre todo o país, sem controlo, regras ou dever de obediência a (já de si lacunares) planos de ordenamento do território.
O resultado, sabemos, está à vista: basta olhar em volta para a notável criatividade arquitectónica e variedade decorativa do casario nacional – em si, interessante contraponto do urbanismo britânico, marcado pela estrita e, admitamos, aborrecida homogeneidade construtiva e ornamental.
O que me parece mais interessante retirar da lição das nossas “ruas da estrada” são as semelhanças fundacionais com a situação sanitária presente do país, em plena e desastrosa pandemia viral. O desordenamento territorial, e o complementar desordenamento do sistema de mobilidade, são evidência de uma curiosa aversão ao planeamento e à gestão metódica de recursos. Prever e prevenir são verbos tratados com púdico desprezo, como se significassem o mesmo que “agoirar”. Organizar é um verbo do qual a parte de “racionalizar criticamente” é convenientemente expurgada. Pelos interstícios desta mentalidade e deste permissivismo colectivos, onde os pequenos interesses individuais criam pactos de conveniência com pequenos e grandes interesses corporativos, escorrem rios de laxismo, fatalismo e oportunismo.
Tal como o momento e modo da sua chegada foi imprevisível, também os efeitos da pandemia são difíceis de descortinar – seja em termos sociais, culturais, económicos ou políticos. Olhando para trás, para os efeitos da gripe espanhola, vimos surgir em diversos países europeus regimes autoritários que a crise financeira de 1929 ajudou a empurrar para o totalitarismo e para os horrores da 2ª Guerra Mundial. Seria hoje bom começarmos a olhar para a frente de forma crítica, aberta e abrangente. E começar a planear, a prever e a prevenir. Sabendo também que a história das epidemias esteve sempre ligada a fugas populacionais dos insalubres centros urbanos para as periferias mais arejadas, e que a actual revolução do teletrabalho pode vir a suscitar uma alteração profunda nos padrões de mobilidade centro-periferia, seria racional criar meios de planificar o futuro de Azeitão sem as fragilidades que o desordenamento passado produziu no seu presente. Mas, para que tal milagre organizacional possa acontecer será talvez melhor chamar cá uma meia dúzia de peritos alemães da Budeswehr (exército alemão), para prevenir a construção de novos dormitórios nas margens da vila.
 
 
Jornal de Azeitão, Fevereiro 2021
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Uma história para esquecer

29/11/2020

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Como alguém uma vez lembrou, as sociedades humanas não conseguem apreender a História com letra maiúscula – quer dizer, a história em toda a sua plenitude e complexidade. A História está para além do entendimento humano. A história é, por isso, sempre “história para alguém”. Há, por isso, multitudes de histórias, ou seja, de selecções possíveis de pontos e eventos do passado vertidas em forma narrativa, para cada grupo, país e tempo. Contar ou escrever história é sempre escolher entre memórias, esquecendo umas e valorizando outras. Por exemplo, há uma história nacional preferida para o final da monarquia (a de Oliveira Martins); há uma para o período salazarista (a Damião de Peres); há uma para o interlúdio marcelista (a de Oliveira Marques); há uma história para o pós-25 de Abril (a de José Matoso). São tanto histórias para entender o passado a que se reportam como entender o momento para o qual foram escritas.

As histórias de Portugal espelham, sem as ler, as histórias de Espanha. As histórias locais divergem das histórias nacionais e estas das histórias gerais ou universais. As histórias liberais catalãs opõem-se às histórias conservadoras castelhanas. As histórias de Lisboa escritas por portugueses distinguem-se das histórias de Lisboa contadas por ingleses. Etecetera. Vem isto a propósito de uma entrevista lida há ano e meio no periódico Setúbal Mais, em que a presidente da Junta de Freguesia de Azeitão anunciava que “o palácio dos Duques de Aveiro foi vendido para se transformar num hotel de charme”. Lida hoje, após os extraordinários acontecimentos despoletados pela pandemia do Covid19, esta é uma memória em relação à qual é difícil decidirmos se vale a pena lembrá-la ou esquecê-la. É possível que o projecto esteja suspenso, adiado ou arquivado. Não faço qualquer ideia da situação actual, mas há duas reflexões que merecem ser feitas a propósito da informação disponibilizada.

A primeira é mais ou menos óbvia: a pandemia provocou um cataclismo na indústria turística mundial. Portugal é (ou era) um dos países do mundo mais dependentes deste sector – e por isso mais sensíveis às suas vicissitudes. Em termos estritamente económicos, as actividades turísticas contabilizaram 19,1% do PIB nacional em 2019, fazendo de Portugal o quinto país do mundo em que o turismo mais impacto tem (tinha) em termos de riqueza produzida. Hoje, penso que há razão para nos perguntarmos se faz sentido fingir que “vai ficar tudo bem” e fazer como se a pandemia fosse apenas um pesadelo passageiro após o qual podemos voltar ao “normal”. Um dos mais visíveis, relevantes – e malbaratados – patrimónios monumentais da região é o “palácio dos Duques de Aveiro”, enquadrando e encimando, com o “convento de São Domingos”, o rossio de Vila Nogueira. A trágico-cómica história do seu progressivo estado de abandono merece ser evocada para ajudar a pensar o seu futuro e o da vila. A pergunta fica aqui a aguardar resposta: valerá a pena destiná-lo à iniciativa privada hoteleira numa era pós-Covid?
 
A segunda, e complementar, reflexão é a seguinte: porque designamos ainda hoje ao arruinado edifício de “palácio dos Duques de Aveiro”? Não tivesse havido pandemia, estaríamos já hoje talvez a contemplar o arranque das obras de um “Palácio-Hotel” no centro histórico da vila. Mas o “palácio” foi durante mais séculos “ruína de palácio” que “palácio”, um aspecto da história local que parece preferível manter sob silêncio. E, antes disso, o “palácio” foi durante setenta anos “fábrica real de estamparia e tecidos de Azeitão”, que precedeu a hoje mais conhecida fábrica de chitas de Alcobaça. E antes da cedência do terreno para a construção do “palácio” em 1521, terá sido terreno de horta dos frades dominicanos desde a construção do convento em 1435. Porque se prefere chamar ao monumento “palácio” e não “fábrica”, “horta” ou “ruína”? Não tenho resposta, mas compreendo que seja mais conveniente para quem procura promover o turismo regional – mesmo em país republicano – polir pergaminhos aristocráticos que expor chagas patrimoniais ou valorizar histórias industriais.

Mesmo silenciando o bárbaro acto punitivo de um Marquês de Pombal utopista e nivelador contra a alta nobreza que resultou na destruição das propriedades dos Távoras e dos Aveiros (mas ainda assim preservou a de Azeitão), é “charmoso” falar da ruína como “palácio dos Duques de Aveiro” – é uma forma de contar a história local que valoriza a sua ligação à corte real e oblitera a sua ligação à emergente (e abortiva) economia industrial do país. E é também um silenciamento da incómoda tendência portuguesa para ceder património público a privados sem quaisquer garantias de que ele seja convenientemente preservado. Foi isso mesmo que aconteceu em 1775, com a atribuição de um alvará de cedência do “palácio” a empresários aventureiros que quiseram fazer uma fábrica de estamparia sem se preocuparem com os problemas logísticos causados pela ausência de estruturas para a importação de algodão e sua fiação. Foi isso mesmo que aconteceu quando a Fazenda Pública decidiu leiloar o “palácio” em 1846 sem procurar garantir a sua preservação futura. É possível que daqui a uns anos alguém esteja nestas páginas a discutir o charme decadente de um “Palácio-Hotel” desocupado.
 
Jornal de Azeitão, Novembro 2020
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O Monstro do Parque

30/6/2020

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Fotografia: dinheirovivo.pt
A estrada que liga, junto ao mar, o Vale da Rasca ao Portinho da Arrábida é uma estrada emblemática e, como se sabe, agora com trânsito muito condicionado. A ligação foi rasgada no início dos anos setenta e sempre causou tensão entre o apetite popular pelo acesso facilitado às praias e as intenções conservacionistas do Parque Natural. O risco de queda de rochas, sendo real, tem servido como justificação mal explicada e, por isso, mal compreendida, para um progressivo controlo draconiano do trânsito e do estacionamento dos veículos de quem vai a banhos na Figueirinha, em Galápos ou no Creiro. Até 1970, parava umas centenas de metros antes da praia de Galápos. Hoje, quase invisível na rocha, ainda se podem adivinhar os vestígios da pequena tasca que ali havia e depois se deslocou para a praia (é hoje o Restaurante O João). A estrada servia sobretudo de acesso a duas estruturas antitéticas nascidas no início do século XX, uma para curar os males que a outra amplificava: o sanatório, agora hospital, do Outão e a cimenteira da SECIL.
Atravessar o perímetro da cimenteira é uma experiência visual perturbante, tanto porque impressiona como porque choca. É difícil não nos perguntarmos, de cada vez que por lá passamos, porque razão uma cimenteira – e a pedreira anexa - é autorizada a operar bem no âmago de um parque natural, como uma chaga purulenta numa paisagem protegida reconhecida como das mais belas do país. Mas antigamente a experiência era muito mais intensa: à aproximação da cimenteira, os odores execrandos dos fornos penetravam nos pulmões como facas e as poeiras giravam no ar e manchavam toda a paisagem.
Hoje em dia, a poluição tornou-se mais insidiosa. Como a dos automóveis, deixou de ser tão visível, mas nem por isso menos perigosa. As micropartículas que se libertam dos fornos de co-incineração (onde se queimam resíduos quimicamente nocivos) são, por virtude dos ventos dominantes na zona, geralmente transportadas para a baía de Setúbal, preservando os doentes do hospital do Outão, poucos quilómetros para Oeste. Em Setúbal, misturam-se com as micropartículas emitidas pelos motores a diesel, pelo fuel dos navios e pelo sem número de fábricas poluentes da região. Ao contrário das partículas de monóxido de carbono, as micropartículas conseguem penetrar na corrente sanguínea e atingem todos os órgãos (dos seres humanos, como dos animais e dos vegetais). São, globalmente, responsáveis pela morte de quatro a sete milhões de pessoas todos os anos.
É por isso irónico que uma das causas principais de poluição ambiental da região tenha a sua origem num parque natural, que deveria ser precisamente um espaço sacro de protecção ambiental. A cimenteira deveria, não fosse a renovação da concessão motivada precisamente pelo programa de coinceneração, encerrar portas em 2021. Assim, vai continuar a contribuir para adoecer e matar a população de Setúbal até 2044. É também irónico que o Hospital do Outão, que nasceu como sanatório para curar doenças respiratórias, esteja em vias de ser desactivado e deslocado para a cidade, onde os doentes serão muito mais afectados pela poluição atmosférica que junto à beira-mar, numa paisagem idílica.
Neste momento em que o mundo se confronta com a pandemia de uma doença respiratória que mata sobretudo quem tem as defesas imunitárias enfraquecidas pela poluição atmosférica, há que reconhecer que somos vítimas de más opções passadas e aproveitar esta crise como oportunidade para repensar o futuro, valorizando em vez de continuar a destruir o extraordinário património que é o Parque Natural da Serra da Arrábida. Uma opção sensata seria encerrar já a cimenteira e voltar a dar ao hospital do Outão a sua nobre função de unidade para recuperação de doentes com doenças respiratórias. Houvesse coragem política para tal...
 
Jornal de Azeitão, Maio 2020
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Covid19 : A missed opportunity?

12/4/2020

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Hôpital de campagne à Camp Fuston, Kansas, pendant l'épidémie de grippe espagnole © Inconu
Most countries’ authorities are keeping silent in the face of the evidence being presented by a growing number of pathologists and epidemiologists linking air pollution with the immunodeficiency conditions of hospital patients with Covid19. To better understand this deafening silence, it is perhaps useful to go back in time and recall the great “forgotten pandemic” of the Spanish flu.
I must admit that I frequently felt puzzled by the way governments, so many years on, still highlight the celebrations of the Armistice of November 11, and by the omnipresence of national and local monuments evoking the soldiers killed during the First World War. In fact, it is only now that I begin to better understand the reasons behind this persistent obsession on the part of many national authorities in putting forth these collective rituals aimed at celebrating the memory of the victims of the Great War.
The construction of historical memories is not limited to the desire of highlighting critical events and give them a narrative structure; it is also done by selecting and by deleting memories which, for one reason or another, are perceived to be in conflict with that desire. The armistice itself was, at the time – unlike what happened on May 8, 1945 – a rather subdued celebration. There was a reason for this: the moment coincided with the tragic second wave of the influenza pandemic. The historiography of this pandemic is quite different from that of the two great wars in that it was not until the second half of the 1970s that it really began to attract the attention of historians. And it is only now, more than one hundred years later, that the general public is starting to understand how tragic it was. It was so obliterated from official records that it is now called the “forgotten pandemic”.
The 1917-1919 influenza pandemic is known as the “Spanish flu” not because it originated in Spain (which remained neutral during WWI) but because the Spanish press was not subjected to government censorship, unlike what happened in combatant countries. Therefore, the deadly outbreak in Spain became a recurring subject in the world press. It is now known that it originated in the US and was spread by American soldiers fighting in the European battlefields.

The governments of the combatant nations were by 1918 immensely discredited by the unnecessary horror of trench warfare. Fearing social upheaval and possible contagion of the Russian popular revolt against the Tsarist regime, they imposed widespread censorship on news relating to the flu pandemic that was by then rampant among the soldiers. The epidemic character of the pulmonary influenza was concealed and therefore preventive measures started to be implemented only when it was already completely out of control and spreading to the general population.
The flu pandemic claimed more victims than both world wars. It caused a drop in national GDPs equal to or greater than that of the First World War. The populations were so traumatized by the millions of deaths that it was partly responsible for the popular appeal of the various European authoritarian and dictatorial regimes which in the twenties and thirties advocated sanitary and hygienic ideologies that promised to build efficient state administrative systems in exchange for the loss of individual rights and freedoms.
The evocation of a memory is often done at the expense of deleting others. That is the reason why so many national authorities still vehemently celebrate Armistice Day: as a silent admission of guilt for their predecessors’ failure to manage the flu pandemic. When several government officials today speak of a “war against the coronavirus”, they are unconsciously re-constructing previous narratives, to make sense of what is, in fact, an absurdity: does the Coronavirus have a will and a conscience to understand that it is “an enemy” and that we are in a “state of war” against it? In insisting in this reductionist narrative, they (and we) are unfortunately obliterating other more meaningful possibilities of understanding the extraordinary events that we are experiencing globally.
We may, therefore, be facing a missed existential opportunity: that of considering the generalized pollution caused by the millions of tons of particulate matter that we humans produce daily as an “enemy that must be defeated”, “whatever the cost”.

TruePublica Editors Note – Air pollution in the UK is a major cause of diseases such as asthma, lung disease, stroke, and heart disease, and is estimated to cause forty thousand premature deaths each year, which is about 8.3% of deaths while costing the NHS around £40 billion each year. In 2017, research by the Lancet Countdown on Health and Climate Change and the Royal College of Physicians revealed that air pollution levels in 44 cities in the UK are above the recommended World Health Organization guidelines. The Royal College of Paediatricians, the Royal College of Physicians and Unicef have all made comment about unsafe air pollution and increased mortality associated with winter and influenza deaths. 

Published in TruePublica, 14 April 2020
Publié à MediaPart, 11 Avril 2020
Publicat a L'Accent, 11 Abril 2020
Publicado n'O Público, 10 Abril 2020

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The diesel pandemic

12/4/2020

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The Big Smoke: that was the name given (another was the ‘great smog’) to the episode of atmospheric temperature inversion (ATI) in London in the winter of 1952-53, which, associated with a viral outbreak, caused the death of 6,000 people and acute respiratory disease in another 100,000. (1)
ATI is when the temperature at ground level is lower than in the upper layers, which creates a cap that prevents the dispersion of urban pollutants in the atmosphere. From the beginning of the industrial era, it was responsible for the notorious London fogs. It was also found to be behind the highly polluted Wuhan smogs. (2)
In January of this year, Lombardy, Piedmont and Veneto were affected by an ATI that led the Italian government to impose strong measures to restrict the circulation of diesel vehicles, ban the burning of domestic fuels and force people to turn down their central heating. In Milan, the fog was so thick and the air so polluted that the fact you could no longer see the Madonnina on the Duomo’s southern façade made national news. In January, pollution levels in the region exceeded 50 micrograms of PM10 and PM2.5 per cubic metre, a situation further aggravated by a strike of the region’s rail workers.
PM10 and PM2.5 are inhalable particles with a diameter of less than 10 µm, known as micro-particles. Among the various air pollutants, they are the ones that cause the greatest health risk because they penetrate deep into the lungs and reach the alveoli, causing not only serious disorders in the respiratory tract but also in other organs, as they infiltrate the bloodstream. The main causes of their formation in the atmosphere are the so-called gas precursors, such as sulphur dioxide and nitrogen oxides. The latter, also known by their acronym, NOx, are produced by the poorly filtered burning of diesel. Their effects on public health are well known: respiratory diseases, diabetes, asthma, coronary and neurological diseases. In 2015, at least 38,000 people died from NOx inhalation. (3) Overall, micro-particles are responsible, or co-responsible, for the deaths of at least 15,000 people in Europe every year.
When an ATI, which prevents the atmospheric dispersion of PM10 and PM2.5, occurs simultaneously with a viral outbreak to which the human body has no immunity, its effects are devastating, especially for those suffering from any of the diseases listed above.
Without wishing to minimise the risks of the Covid19 pandemic, I would nevertheless question the appropriateness of the “war” metaphor that permeates political leaders’ speeches and is duly propagated by the media. It is absurd to declare “war” on a virus, and to call it an “invisible enemy”.  It is understandable to praise the heroism of health care workers but preposterous to compare them to soldiers on a bloody battlefront and to promise total victory “whatever it takes”. The analogy has a goal, of course: that of demanding blind obedience under emergency laws by peddling a holy national communion between the people and their protector governments.
I doubt that the metaphor makes sense if we genuinely want to understand what is really at stake, both socially and in medical terms. But let us momentarily suspend disbelief and accept it as a portrait of reality. If we are indeed at war, we must hence clearly define our strategic goal, identify our enemy and select the best means to combat it effectively. So I would ask: has anyone ever posited that there may be more than one enemy and that we are trying to fight a virus without recognising that diesel combustion is perhaps the more insidious enemy? We could, for instance, start by trying to understand why a total of 24,981 Italians died of “flu” in the winter of 2016-17, when there was no Covid19 around.


References:
1) M. Bell et al., “A retrospective assessment of mortality from the London smog episode of 1952: the role of influenza and pollution”. Environmental Health Perspectives, 112, 1: 6-8
2)  B. Liu et al., “Study of continuous air pollution in winter over Wuhan based on ground-based and satellite observations”. Atmospheric Pollution Research, 9: 156-165.
3) S. Anenberg et al., “The global burden of transportation tailpipe emissions on air pollution- related mortality in 2010 and 2015”. Environmental Research Letters. 14 (9): 1-12.
4) A. Rosano et al., “Investigating the impact of influenza on excess mortality in all ages in Italy during recent seasons (2013/14–2016/17 seasons)”. International Journal of Infectious Diseases, 88: 127–134.

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​Publicat a L'Accent, 4 Abril 2020
Published in TruePublica, 2 April 2020
Publié à MediaPart, 27 Mars 2020
Publicado no Público, 23 Março 2020

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    Manuel joão ramos

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